11 de julho de 2017
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O que o uso de um par de óculos falsificados pode dizer sobre sua conduta?
Você acharia exagero dizer que a compra de um par de óculos falsificados poderia interferir na conduta ética de uma pessoa em outros aspectos da vida? A maioria poderia dizer que sim, mas a verdade é que o uso dos falsificados agem em nosso inconsciente de uma maneira muito mais poderosa do que podemos supor. Ficamos mais sujeitos a trapacear com os produtos falsos.
Para mostrar como isso pode acontecer, Dan Ariely, psicólogo econômico e autor do livro “A mais pura verdade sobre a desonestidade”, fez uma experiência interessante na Duke University. Para fazer o teste, ele recebeu uma remessa de óculos de sol femininos de grife e recrutou algumas mulheres para participarem.
O grupo de participantes foi dividido em três: o primeiro recebia a orientação de que cada uma receberia um par de óculos de sol original para usar durante certo tempo e, em seguida, receberia uma tarefa simples – que elas também executariam usando os óculos. O segundo grupo recebia as mesmas orientações, com a diferença de que era informado de que os óculos eram falsificados, mas muito semelhantes aos originais. O terceiro grupo só era orientado a usar os óculos durante a experiência, mas sem nenhuma informação sobre o modelo ser original ou falsificado – ou seja, um grupo de controle.
Depois de usarem os óculos por um tempo, as participantes dos três grupos foram levadas para um local em que deveriam fazer um exercício no computador. Na tela, aparecia um quadrado cortado na diagonal, com diversos pontos espalhados nos dois lados. Por cerca de um segundo, a tela piscava e os pontos mudavam de posição. Isso se repetia diversas vezes e, a cada uma delas, as participantes deveriam apontar o lado que continha mais pontos. Em algumas situações era difícil fazer essa diferenciação, em outras ficava muito nítido que os pontos se concentravam mais de um lado só.
Na primeira tentativa, nenhum incentivo foi colocado – justamente para os pesquisadores conseguirem medir a capacidade que as participantes tinham para fazer essas estimativas. Na sequência, elas deveriam repetir a mesma tarefa mais algumas vezes, só que com o adicional de um incentivo: a cada vez que apertassem o botão que indicava a maior concentração de pontos à esquerda, elas receberiam 0,5 centavos. Quando apertassem o botão indicando o lado direito com maior concentração de pontos, ganhariam 5 centavos. A diferença na remuneração era justamente para criar o conflito de interesses.
De um modo geral, todas elas trapacearam nas respostas, mas as que estavam no grupo com os óculos falsificados trapacearam muito mais do que as outras. Além disso, no grupo delas, a trapaça aconteceu até mesmo em situações em que obviamente a maior concentração de pontos estava do lado esquerdo. Ou seja, trapacearam abertamente.
As mesmas participantes também foram convidadas a fazer um teste de matrizes matemáticas durante um curto intervalo de tempo. Ao final do teste, elas deveriam dizer quantas respostas acertaram – sendo que os examinadores iriam conferir a folha de matrizes para atestar a veracidade da resposta, mas sem que elas tivessem conhecimento disso. Nesse contexto, as mulheres do grupo de óculos originais trapacearam em 30% das vezes, as do grupo de controle em 42% das vezes e, por fim, as do grupo de óculos falsificados trapacearam em 74% das vezes.
Essa mudança de comportamento em função de um produto falsificado é praticamente irracional, mas tem raízes em algo que o autor do livro classifica como “sinalização para si mesmo”. De maneira análoga ao que acontece, por exemplo, quando você compra comida para um morador de rua e sente um forte bem-estar por reforçar em si mesmo uma imagem de compaixão e bom caráter, o uso dos itens falsificados, inconscientemente, nos levam a crer que somos menos legítimos – e isso nos dá mais brecha para trapacear.
Fonte: G1.com
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